A entrada num dos mais misteriosos países do mundo.
Entretanto completámos 365 dias de viagem, estamos um pouco cansados e a precisar de parar.
Mas antes disso, ainda faremos algumas publicações sobre um dos países que mais tínhamos curiosidade em visitar durante este período, por todo o segredo e falta de informação que existe, a Coreia do Norte, neste caso, um pouco mais detalhado do que é costume.
Tudo tranquilo durante os pouco mais de 150km, mas parecia que depois de atravessarmos a tal ponte, tínhamos feito uma viagem ao passado, as diferenças para uma China super moderna eram bem visíveis ali.
Logo ali ficámos com uma ideia que se confirmaria mais tarde, a maioria da população vive da agricultura, ainda bastante rudimentar, com arados puxados por bois e carroças que lembram Portugal nos anos 70. Os campos de arroz parecem não ter fim, a paisagem é bonita e bem cuidada, com as zonas planas cultivadas e as montanhas como fundo.
Eram já 18:30 quando chegámos à estação da capital, onde já nos esperavam as duas guias norte coreanas que nos acompanhariam durante a nossa permanência ali, ficaram até a dormir no mesmo hotel, apesar de viverem relativamente perto. Pelo caminho, a excitação e curiosidade para ver o que estava do outro lado da janela era grande e as fotos e vídeos eram uma constante.
Seguimos diretamente para o hotel, um dos maiores, senão o maior do país, tem 47 andares, nós tivemos a sorte de ficar no 38, onde as vistas são incríveis sobre a cidade. Este hotel é o mesmo onde ficou o tal americano que decidiu ir ao piso 5, que está interdito a turistas, “roubar” uns posters de propaganda e que acabou por não ter um final feliz. Jantámos num dos quatro restaurantes, neste caso no europeu, aquilo mais parecia um casamento tal era a quantidade de pratos. Apercebemo-nos depois que iria ser assim todos os dias.
Como não é permitido sair do hotel sem acompanhamento, tivemos que ficar por ali. Para terem uma ideia, para além das habituais lojas de souvenirs e dos restaurantes, têm 2 bares, sala de bilhares, ping pong, bowling, piscina, massagens, sauna, karaoke, cabeleireiro e até um casino (um paraíso para os Chineses), tudo se paga e é claramente mais uma forma que têm de sacar mais uns cobres ao pessoal, com a particularidade de só se poder pagar em moeda estrangeira (euro, dólar ou RMB) e com um câmbio dez vezes pior do que o real.
Os despertadores tocaram às 6h30, tínhamos duas horas e meia de caminho pela frente, numa autoestrada que já teve melhores dias, a sorte é que como não há muitos carros, lá se vai mantendo, com remendos aqui e ali. O destino, o International Friendship Exhibition Hall, uma espécie de museu, onde estão expostas todas as oferendas recebidas pelos líderes do país ao longo dos últimos anos.
Não vimos todas, porque são mais de cem mil, mas deu para ver que também lá estavam algumas portuguesas. Claro que muitas eram de países com regimes parecidos, ou dos representantes comunistas de cada país. Têm até duas carruagens oferecidas pelos chineses e pelos russos e ainda um avião oferecido pela vizinha Rússia. Como tivemos que deixar todos os pertences à entrada, não temos fotos do interior. A zona envolvente é muito agradável, com uma série de montanhas, rio de água cristalina e até uma ou outra cascata.
Dali seguimos para um dos poucos templos Budistas que resistiram à guerra, o Pohyon Temple, muito bem cuidado e ainda com algumas estruturas originais, não foi a primeira vez, mas foi engraçado a guia ir dizendo que algumas pinturas do templo tinham sido feitas pelo grande líder Kim, mais tarde fomos percebendo que tudo ou quase tudo foi inventado, criado ou teve a mão de um dos kim´s.
Almoçámos perto, num outro hotel, praticamente vazio, a par da penúltima, uma das melhores refeições dos últimos tempos. Percebemos claramente que querem deixar uma boa impressão ao turista e fazer crer que por ali não falta nada.
Pouco depois, era hora de voltar à capital, para visitar a biblioteca nacional, de onde se pode ver a praça onde fazem as famosas paradas militares, terá talvez o tamanho do Terreiro do Paço em Lisboa. Estar ali, foi como estarmos num cenário de filme, algo que fomos sentindo por diversas vezes durante a presença na Coreia.
Seguimos até ao metro, deu finalmente para ter algum contacto embora sempre controlado, com um ou outro local, principalmente os miúdos que se mostravam mais curiosos, a quem ainda demos um aperto de mão, que muito educadamente nos responderam com uma vénia em forma de cumprimento.
As estações com uma arquitectura da antiga união soviética e com a particularidade das duas linhas estarem a mais de cem metros de profundidade, claro está segundo a guia a mais profunda linha do mundo, que não é, mais está no top 3. São belas obras de arquitetura, já as carruagens propriamente ditas, pode-se dizer que são vintage.
Saímos junto ao Arco do Triunfo, um pouco maior do que o da capital francesa, e ainda tentámos comprar uma espécie de bolo com muito bom aspeto num dos restaurantes de rua ali perto, mas como não tínhamos Won’s não conseguimos.
Já depois do jantar, tivemos direito a uma grandiosa atuação de uma banda, tudo em honra do membro do grupo que celebrava o seu aniversário. Seguimos para o hotel e ainda deu para umas partidinhas de ping pong, a responsável da sala fez questão de dar uma lição (ao Nuno) de como se joga por estes lados e 4 partidas a 0 depois, era hora de ir descansar. Para consolação serviu o facto de ter sido atleta da seleção norte coreana.
Curiosidades:
Dizem que todos têm direito a um trabalho, como tudo é do estado a 100%, são todos funcionários públicos, mesmo os agricultores, que estão numa espécie de cooperativas, como tal não há desemprego, nem que para isso, estejam por vezes umas trinta pessoas em poucos metros quadrados a tirar ervas num jardim, ou simplesmente a cortar uma área bem grande de relva à tesoura.
Para além do trabalho, também a casa é um direito, como devem imaginar muitas delas fazem lembrar alguns dos bairros sociais que existem em PT, daqueles em bastante mau estado, mas lá vão dando umas pinturas para disfarçar. A saúde e educação também nos disseram ser gratuita.
Carros só existem os que pertencem ao estado, pelo que fora da capital são mesmo muito poucos, assim como os postos de combustível. Os monumentos públicos e estátuas de homenagem ao líder estão na sua maioria em bom estado, têm até uma fundação criada pelo grande líder, que recebe fundos de todos os coreanos para garantir que tudo está em boas condições.
Na parte inicial, foi um pouco mais soft, mas à medida que íamos visitando mais locais e que nos iam relatando mais coisas sobre o país, as referências de grandiosidade dos seus líderes (antigos e actual) foram constantes e que tudo de bom que têm é de sua inteira responsabilidade.
Desejam a reunificação do país com toda a sua força e não fosse o seu actual grande inimigo EUA e o principal responsável pelo inicio da guerra, o Japão aquando da invasão do território, hoje seriam um só país. Estão mais convencidos do que nunca, depois da cimeira de Singapura em 2018, dizem que essa reunificação, será uma realidade muito em breve.
Por vezes e sem querermos ser desrespeitadores, com algo para que foram formatados desde muito cedo, eram quase inevitáveis as trocas de ideias entre nós sobre o assunto. Por outro lado, é interessante ver o orgulho que têm no seu país e a forma orgulhosa com que se descrevem e com tudo o que conseguiram, apesar de todos os boicotes que têm.
Dizem que a população do país ronda os 25 milhões, mas sinceramente não parece mesmo nada, talvez pela falta de carros, não sabemos.
A sensação com que ficámos muitas vezes e apesar de não termos vivido nesse tempo é que estávamos dentro de um filme do Portugal dos anos 70, tanto na forma de vestir, como na forma como vivem, mas com uma mistura de modernidade aqui e ali. Para quem viu o filme, faz lembrar um pouco os hunger games.
As nossas redes de telemóvel não funcionam e também não existe acesso à internet. Os Coreanos têm uma intranet, só com acesso a sites e apps Norte Coreanas.
A sensação final com que ficámos, é que até tivemos alguma sorte com as guias e tivemos um pouco mais liberdade do que o normal. Fomos a alguns sítios onde a maioria não vai.
No fundo falando do nosso caso, pensávamos que ia ser muito mais restritivo do que o que foi, mas gostaríamos de poder circular como estamos habituados e poder cumprimentar sem ser com um aceno e um riso assim de fugida, muitas das vezes dentro de um autocarro.
Assim que isso for possível, seremos com certeza dos primeiros a visitar novamente a Coreia do Norte, que talvez já nem tenha esse nome.
Visto: Como é obrigatório ir numa tour organizada, eles também tratam dessa parte, custa 50€. Terão também que ter um visto de dupla entrada na China, este talvez um pouco mais complicado de conseguir.
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Valeu ter lido este texto, magnifico. Hoje já visitei a coreia do norte
ResponderEliminarMuito obrigado pelo comentário, ainda bem que gostou!
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